Artigos e Variedades
Saúde - Educação - Cultura - Mundo - Tecnologia - Vida
Cheikh Anta Diop e a História de África sem preconceitos

Cheikh Anta Diop e a História de África sem preconceitos

Antropólogo, historiador, especialista em física nuclear e apaixonado por linguística, o senegalês Cheikh Anta Diop teve um papel fulcral na escrita da História de África, livre dos preconceitos racistas.

afRICA(1).jpg

Nascimento: Em 1923, na aldeia de Thieytou, a cerca de 100 quilómetros a leste de Dakar, no Senegal, numa família Wolof. Em 1946, foi-lhe concedida uma bolsa para estudar em França. Começou pela área da Física e Química, tendo mais tarde estudado Filosofia e História. Nesta última área de estudo, o senegalês debruçou-se especialmente em temas relacionados com a "África negra pré-colonial" e com a "unidade cultural da África negra". Cheikh Anta Diop era nacionalista e um defensor do federalismo africano. Voltou ao Senegal em 1960, ano da independência do país, e dedicou-se até à sua morte, em 1986, ao ensino, à investigação e à política.

Reconhecido:

- Pelos vários trabalhos científicos e livros acerca da história e também do futuro do continente africano.

- Baseada no parentesco entre as línguas africanas como o Wolof, a sua língua materna, e o egípcio antigo, a teoria de Cheikh Anta Diop revelou a influência cultural que os povos africanos tiveram na civilização egípcia e demonstrou que "o antigo Egito teve raízes negras".

- Cheikh Anta Diop estudou Química e Física Nuclear e criou, em 1966, o primeiro laboratório africano de datação por radiocarbono, na universidade que hoje tem o seu nome.

- Durante os seus anos de estudante, Cheikh Anta Diop defendeu a independência dos países africanos. Mais tarde, tornou-se uma figura importante do movimento federalista africano, tendo apresentado as suas ideias na obra "Os fundamentos económicos e culturais de um Estado federal da África Negra" (1960).

Frases famosas:

O Egito é para o resto da África negra o que a Grécia e a Roma são para o mundo ocidental.

A plenitude cultural apenas pode tornar um povo mais capaz de contribuir para o progresso geral da humanidade e aproximá-lo do conhecimento de outros povos.

Os ideologistas que se escondem sob a pretensão da ciência devem perceber que a era do engano, da fraude intelectual está definitivamente acabada, que uma página foi transformada na história das relações intelectuais entre os povos.

Os trabalhos de Cheikh Anta Diop eram incontestáveis?

Quando o seu livro "Nações e Cultura Negras" foi publicado, em 1954, Cheikh Anta Diop teve que enfrentar um grande ceticismo no mundo académico, para além das críticas baseadas em preconceitos racistas herdados do colonialismo. Alguns colegas acusaram-no de ter uma abordagem multidisciplinar que às vezes era caótica, outros afirmaram que o seu trabalho científico era influenciado pelo seu ativismo político. Em 1974, o senegalês apresentou a sua teoria num simpósio internacional no Cairo perante uma plateia compostas por egiptólogos. Foi aqui que alguns dos maiores especialistas na área louvaram pela primeira vez as suas teorias "visionárias". Desde então, as suas teses são aceites como verdades científicas.

A cultura egípcia antiga, tão admirada pelo mundo ocidental, é africana e tem sido influenciada por povos provenientes da África negra. Cheikh Anta Diop afirmou-o em 1954. "Esta humanidade que nasceu em África, nas margens do rio Nilo, era negra. Depois colonizou progressivamente o vale e teve 120 mil anos em frente a ele para descer da região de Uganda até ao Delta do Nilo", disse.

Por detrás desta tese estavam argumentos científicos sólidos, como por exemplo a proximidade das linguagens do antigo egípcio com outras línguas africanas. A revelação de Cheikh Anta Diop provocou alvoroço na comunidade científica, onde os preconceitos racistas eram muito comuns.

Como explica Aboubacar Moussa, especialista em egiptologia e professor da Universidade Cheikh Anta Diop, em Dakar, as teorias de Diop foram revolucionárias para a época. O seu livro,, publicado em 1954, "tornou-se o livro de cabeceira de todos os estudantes intelectuais africanos e de todos os intelectuais da diáspora. Os ocidentais fizeram tudo o que puderam para desacreditar o livro", afirma.

No entanto, desacreditar o livro era difícil devido ao rigor científico deste senegalês doutorado em Letras. Cheikh Anta Diop era também formado em Química, Física Nuclear e Filosofia. Mas os seus interesses não se ficavam por aqui. O professor Diop tinha também uma paixão por História e Linguística e um gosto especial em resolver problemas grandes. Como lembra Babacar Diop, professor de História da Universidade de Dakar, Diop "lidou com questões muito complexas: com a questão das línguas nacionais, do federalismo em África e problemas relacionados com energia.

Cheikh%20Anta%20Diop.jpg

Cheikh Anta Diop criou, em 1966, o primeiro laboratório africano de datação por radiocarbono

Para este professor, o senegalês "era um visionário". Hoje "não é possível falar sobre a História de África, nem mesmo sobre a história da humanidade, sem mencionar a obra de Cheikh Anta Diop", frisa.

Passado e futuro

Para além de se ter debruçado sobre a História do seu continente, Cheikh Anta Diop também se interessou pelo futuro de África. Durante os seus estudos, comprometeu-se com movimentos estudantis pró-independência e na década de 1960 apoiou o multipartidismo e a democracia no Senegal. Viajou por todo o continente para pedir aos africanos que se unissem política, económica e culturalmente.

Babacar Diop lembra o professor como uma pessoa "humilde e "acessível". Era também uma "pessoa franca", que "não escondia as suas ideias, mas claro que se tivesse que levantar a voz, fazia-o. Não fugiu das suas responsabilidades, o que mostra que tinha também uma personalidade muito forte", diz.

A determinação de Cheikh Anta Diop ajudou a colocar um fim na "falsificação da história humana" herdada do passado colonial.

Entre 1964 e 1999, a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) foi publicando gradualmente a História Geral de África, na qual as teses de Anta Diop têm uma parte importante.

O projeto "Raízes Africanas" é financiado pela Fundação Gerda Henkel.

rivertales1.jpg

Um dia na vida de uma família em Rosette

Os fotógrafos não quiseram mostrar conflitos políticos, mas sim as pessoas e como vivem o seu dia a dia, apesar de todas as dificuldades. Mahmoud Yakut conta a vida em Rosette, no Egito. A base da subsistência de muitas pessoas aqui é a agricultura. A fertilidade dos solos no delta do Nilo é uma bênção para os habitantes.

River%20Tales2.jpg

Piscicultura no Nilo

O rio mais comprido do mundo passa por Rosette no Egito, onde muitas pessoas vivem da pesca. Na água bóiam estruturas de madeira para a criação de peixe, sobre as quais estão pequenas cabanas. Cada cabana tem espaço para uma cama e uma minúscula cozinha. As culturas são constantemente vigiadas por um membro da família.

River%20Tales3.jpg

A vida na cidade

Rosette é ponto de encontro entre o passado e o presente: a cidade portuária é um centro de comércio importante desde a Idade Média. A História aqui é inseparável do comércio. A vida das pessoas é muito simples. Ao mesmo tempo, Rosette é famosa pela hospitalidade e generosidade dos seus habitantes.

River%20Tales4.jpg

O papel das mulheres

As mulheres de Rosette são, geralmente, donas de casa, que se ocupam das crianças e de outros afazeres: por exemplo, cozinhar o pão nos fornos tradicionais de cerâmica. Também vendem legumes e queijo caseiro no mercado. Apesar de pobres, os citadinos são muito hospitaleiros. Partilhar é uma filosofia de vida.

River%20Tales5.jpg

Laboratório de criação

Os fotógrafos já exibiram este seu trabalho sobre o Nilo em muitas galerias. Al-Sadig Mohamed é sudanês. O fotógrafo sente-se inspirado pela cerâmica tradicional ao longo do Nilo. Para Al-Sadig Mohamed, o artista e material influenciam-se mutuamente.

River%20Tales6.jpg

Artéria vital

A cerâmica do Nilo tem uma tradição milenar. Até à construção da barragem de Assuan, as enchentes do Nilo traziam solos férteis. Hoje mais do que nunca, a água é um recurso valioso. Por isso, o Nilo é considerado uma artéria vital, que simultaneamente simboliza a mudança constante. As pessoas aqui dependem do Nilo como fonte de água, via de transporte, fornecedor de energia e espaço vital.

River%20Tales7.jpg

Tradições milenares

Os vasos em cerâmica são úteis e belos ao mesmo tempo. Assim, o mais antigo artesanato do mundo desenvolveu inúmeras formas ao longo dos séculos. Hoje, museus e galerias expõem muitos exemplares de cerâmica núbia. Eles contam a história da cultura dos núbios no Sudão, um país desde sempre fortemente caracterizado pelo Nilo.

River%20Tales8.jpg

Lições de humildade no Nilo Azul

A viagem continua ao longo do Nilo Azul até à Etiópia com o fotógrafo Brook Zerai Mengistu. O Nilo Azul nasce na Etiópia e aqui vive uma comunidade de estudiosos da Bíblia adeptos do Cristianismo primitivo. Os estudiosos vivem à margem da sociedade para obterem acesso ao mundo espiritual e tornarem-se curandeiros para as outras pessoas. A sua formação na solidão voluntária demora 14 anos.

River%20Tales9.jpg

Catequese

De vez em quando os estudiosos abandonam a sua comunidade, para mendigar alimentos na aldeia. Mendigar ensina-lhes a ser humildes. E a humildade, na sua opinião, é uma via de acesso à força espiritual.

River%20Tales10.jpg

Unidade e eternidade divina

A parte etíope do Nilo Azul representa a unidade e a eternidade divina. Para além das cidades, o Nilo proporciona espaço e paz.

Autoria: Franziska Kloos, ck

Tamara Wackernagel - DW

Comente essa publicação